quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Obs: Entrevista antiga. 15 Junho 2007. :)


Paulo Ricardo pode não ser o Roberto Carlos mas viveu muitas emoções. Em pouco mais de vinte anos de carreira ele foi quase tudo: pioneiro do jornalismo rock no Brasil (escreveu para a Somtrês e biografou KISS e Iron Maiden nas revistas posters que enfeitaram - e se duvidar ainda enfeitam - vários quartos de adolescentes Brasil afora), ídolo do underground roqueiro paulistano (quando o RPM ainda tocava em porões como o Madame Satã) e símbolo máximo do BRock pós Rock in Rio. Sim, porque se hoje em dia é mais comum se falar de Legião Urbana ou dos Titãs quando nos lembramos daquele ano de 1986, o fato é que foi o RPM a banda símbolo daquele momento, com milhões de discos vendidos, e a foto de Paulo Ricardo estampando cadernos, capas de revistas e até álbuns de figurinhas.



Uma das regras não escritas do pop diz que um grande sucesso é seguido de uma queda que às vezes pode ser fatal. Com o RPM foi assim. O terceiro disco (segundo de estúdio) "Quatro Coiotes" não foi bem recebido pela crítica e incompreendido pelo público que não entendeu muito o clima quase progressivo daquelas músicas. Para piorar mais as coisas, a euforia pós Plano Cruzado tinha acabado e o país estava mergulhado em um inferno econômico, o mesmo inferno pelo qual passava a banda com brigas e disputas internas. Foi assim que em 1988 o RPM se despediu.


Paulo Ricardo depois continuou solo, reeditou algumas versões da banda (mas nunca com o tecladista Luiz Schiavon) e se casou com Luciana Vendramini matando de inveja toda uma legião de ex-adolescentes.Cansado de dar murro em ponta de faca cometeu o que para muitos foi uma loucura: resolveu virar um cantor romântico e disputar espaço não mais com seus colegas de geração ou com as bandas que então faziam sucesso, mas com Fábio JrRoberto Carlos ou Enrique Iglesias. Não se pode dizer que ele tenha sido mal sucedido, afinal ele vendeu bem e conquistou mesmo esse público, mas o estranhamento dos antigos fãs era inevitável. Com o tempo Paulo se cansou e quis voltar ao pop. Primeiro armou uma volta do RPM que rendeu um disco ao vivo e uma grande turnê. 


Quando chegou a hora de pensar o terceiro álbum de inéditas a banda rachou. Schiavon e o guitarrista Fernando Deluchi queriam manter a sonoridade antiga. Os Paulos (o outro era o baterista Paulo Pagni) queriam dar uma nova guinada. Assim o RPM acabou de novo e Paulo Ricardo montou o PR.5 que não fez muito sucesso. Nesse meio tempo ele ainda gravou um disco de covers de sucessos internacionais e até virou professor de história do rock.


Agora é 2007, Paulo está lançando "Prisma" um cd com uma pegada mais pop e forte cheiro de anos 60 e 70. Ao mesmo tempo prepara o lançamento de uma caixa com toda a obra do RPM e avisa que as diferenças com os outros membros foram resolvidas. Para saber mais sobre seu atual momento e relembrar a sua tragetória fomos atrás de Paulo Ricardo. O resultado está aí embaixo.
Ao ouvir seu disco novo percebi um clima bem anos 70 nele. Seja nas baladas com clima bem soft rock ou em "Eu vou voltar pro frio" que lembra muito a disco brasileira feita na época. A intenção era essa mesmo? Seria esse um disco aonde você deixou as suas memórias de adolescente ditarem o rumo?


Minhas memórias estão sempre presente, mas acho que há sim uma forte influência dos anos 70 e até dos anos 60 nos vocais e nas cordas.




Nesse disco, mais do que em qualquer outro que você fez, o Paulo Ricardo beatlemaníaco também parece ter dado as caras. Acho que nunca a influência deles no seu trabalho foi tão forte, você concorda?

Yeah, yeah, yeah!


Você voltou a tocar com o Luiz Schiavon no Faustão e admitiu que o RPM pode voltar no meio do ano com a formação original. Já existe algo de concreto? E dá pra falar dessa caixa com os trabalhos da banda que está para sair?

A caixa deve sair em outubro e trará, além de nossos 3 CDs, com suas capas originais, um 4º CD com remixes, lados B e outras coisas inéditas em CD, além do DVD com o show "Rádio Pirata" ao vivo, gravado no Ginásio do Ibirapuera, em dezembro de 86. O projeto gráfico é de Luiz Stein e as fotos de Rui Mendes. Lançaremos também nossa biografia, porMarcelo Leite e faremos alguns shows para comemorar o evento.

Como foi dito, o RPM acabou novamente porque você e o Paulo Pagni tinham uma idéia sobre o futuro do grupo diferente da dos outros dois? Vocês conseguiram (ou acha que vai conseguir) resolver essa pendenga?

Conseguimos, está tudo resolvido. Inclusive os 2 participaram de um dos meus últimos shows em São Paulo.

Caso a banda volte, você pretende continuar fazendo discos solos, com uma visão mais particular para evitar que esse tipo de briga volte a acontecer? Ou você acha que quando se está numa banda o certo é se dedicar 100% a ela?

Esse é o combinado, estipular prazos para as atividades de grupo, enquanto mantemos nossos projetos solo. Assim é mais saudável.

Olhando para o passado você seria capaz de dizer o exato ponto onde as coisas ruíram para o RPM? Se pudesse voltar ao passado mudaria algo?

São tantas coisas que eu levaria várias páginas para enumerá-las, mas o que importa é que todos os problemas estão superados e hoje temos muito orgulho do que realizamos juntos.

E se o disco 4 Coiotes tivesse vendido tanto quanto os dois anteriores? Será que a história teria sido diferente?

É possível, quem sabe? Mas não acredito.

Queria saber alías como foi pra você ver o cenário do rock brasileiro se afunilando no fim dos anos 80 e começo dos 90 quando somente umas poucas bandas conseguiram se manter em evidência. Você sente falta dos momentos de histeria de 1986?

Não sinto falta de nada. Se você tivesse ido ao meu show no Tom Brasil, em 25 de maio, saberia porquê. Quanto ao funil, é natural e acontece em todas as áreas.

Lendo uma entrevista do Paul McCartney recentemente ele disse que tão logo se lançou como artista solo, descobriu que seria impossível superar os Beatles e que isso era algo que mais cedo ou mais tarde todas as bandas que chegaram bem próximo disso também percebem. Guardadas as devidas proporções isso se aplicaria ao RPM?

Citando novamente Paul McCartney e guardando as devidas proporções, eu diria que o RPM é um fantasma, mas um fantasma camarada. Se a memória de Paul já está quase cheia, já eu acho que ainda tenho muito por fazer.

Será que foi por isso que de repente você achou melhor mudar não só de posição, mas de esporte, trocando o rock pela música romântica?

Não troquei nada, apenas me permiti incorporar novas experiências à minha formação. Eu acho que, nos meus 2 últimos CDs – Acoustic Live e Prisma – há um pouco do Paulo Ricardo do RPM e do Paulo Ricardo solo.

Você disse recentemente que precisou "matar" aquele Paulo Ricardo para manter a sua sanidade. Que lições - boas ou más - ficam desse período?

Sou uma pessoa muito intensa. Sempre mergulho de cabeça mas, como nos ensinou meu grande amigo Marcelo Rubens Paiva, às vezes isso pode ser perigoso.

Em outra entrevista sua durante os anos 90 você reclamava que aparentemente os críticos e jornalistas estavam meio querendo apagar o RPM da história, minimizando ou mesmo ignorando a banda. Você tinha mesmo essa impressão?

Tinha.

Ao mesmo tempo hoje em dia se percebe que a banda é tratada com mais carinho (vide o livro Dias de Luta ou o especial sobre o Revoluções por Minuto que a MTV preparou). Mudaram os críticos ou as opiniões?

Depois da volta do RPM no especial RPM MTV 2002, que foi muito bem sucedido, percebi que essa questão era irrelevante.

Por falar nisso poucos sabem que você começou escrevendo. Você acompanha a nova imprensa rock brasileira? Gosta de algum jornalista ou publicação em particular?

Acompanho, na medida do possível. Gosto muito do trabalho que o Ivan Finotti vem fazendo à frente do Folhateen e do site Omelete.

Esse lado jornalista ainda está presente? Você sente vontade de escrever resenhas ou mesmo algo de mais fôlego como uma auto-biografia? Ou ao menos ainda tem aquela coisa de crítico que sempre vai atrás de todas as novidades?


Deixo a biografia a cargo do competente Marcelo Leite, que também escreveu o livro Madame Satã, contando a história da casa. Procuro me manter informado e ouvir as bandas novas que se destacam, como Cansei de ser SexySnow Patrol e Arcade Fire. Confesso que não adorei os Arctic Monkeys, por exemplo. Mas não tenho saco de ouvir TUDO que está hypado. Hoje tenho um blog no IG onde escrevo todos os dias, além de colaborações esporádicas, o que tem me dado muito prazer.

Por falar em livro você como grande fã do Roberto Carlos gostaria de falar algo sobre a proibição da biografia dele?

Sabia que isso ia acontecer e comprei o meu logo que saiu. Depois que o Roberto Carlos se manifestou a favor da censura do filme "Je vous salue, Marie", de Jean Luc Godard, nos anos 80, nada mais me surpreende.

Você também gravou um disco de covers no esquema voz e violão. Você pensa em fazer mais discos assim, de intérprete entre trabalhos autorais?

É possível. O trabalho foi muito bem recebido, assim como o Rock Popular Brasileiro de 96. Mas não, não há nenhum plano concreto nesse sentido por enquanto.

E essa coisa de ser "professor de rock" na Casa do Saber? Como foi a experiência? Você e o Cadão Volpato pensam em repetir a dose? De repente até levar o curso para outras cidades?

A experiência foi maravilhosa e vamos sim repeti-la, em agosto, numa edição revista e ampliada. Quanto a outras cidades, é difícil, mas não é impossível. Talvez numa edição resumida.

Que discos você anda ouvindo ultimamente?

O último do Keane, "Under The Iron Sea", Corinne Bailey Rae e Jeff Buckley.

Para encerrar, se uma banda ou artista jovem te pede dois conselhos: um sobre o que fazer e outro sobre o que não fazer para se ter sucesso nessa carreira o que você falaria.

1) Desista 2) Não ouça conselhos. Siga o seu instinto.



Paulo Ricardo (João Gevard), Luís Schiavon (Ricardo Monastero), Fernando Deluqui (Pierre Santos) e Paulo Pagni (Bruno Martins) formam a banda RPM (Foto: TV Globo/João Miguel Júnior)

Paulo Ricardo (João Gevard), Luís Schiavon (Ricardo Monastero), Fernando Deluqui (Pierre Santos) e Paulo Pagni (Bruno Martins) formam a banda RPM (Foto: TV Globo/João Miguel Júnior)

Eles fizeram os "4coiotes" no programa "Por toda minha vida" apresentado pela Rede Globo. 


Materia do O GLOBO sobre o show do RPM no RIO :)

Matéria do O GLOBO, sobre o show do Rio #rpm


Fãs do Rio de Janeiro, afirmam que o show foi ótimo. 
O RPM volta mais ALUCINANTE do que nunca. !!!